Poesia e Psicologia


Boa tarde caros leitores!! Hoje falaremos sobre a comunhão existente entre a poesia e a psicologia.

Descrever um estado emocional ou a essência de uma vivência é, muitas vezes, bastante mais fácil e exato através da poesia do que do discurso científico. É difícil descrever cientificamente a saúde mental, mas Fernando Pessoa fá-lo magnificamente neste pequeno excerto de um dos seus poemas. 

 
“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo…”

Poesia de Fernando Pessoa

 

A possibilidade de podermos aprender com as diferentes experiências que vamos tendo ao longo da nossa vida, boas e más, é uma das componentes principais da saúde mental. Ser capaz de construir uma identidade própria, segura e diferenciada é uma das aquisições mais importantes do processo psicoterapêutico. Uma outra é aumentar significativamente a nossa capacidade para tolerarmos a frustração e o sofrimento inerente à própria vida. Não significa ficarmos tolerantes com o sofrimento, mas sermos capazes de lidar com ele transformando-o em algo que aumenta a nossa resistência e a nossa capacidade para sermos felizes, como diz Fernando Pessoa. 


Desta forma, quer a psicologia como a poesia permitem-nos conhecer melhor o interior, os sentimentos ocultos que todos possuímos daí a beleza destas duas áreas que tão profundamente se interligam. Assim sendo deixamos-vos com um poema especial. Esperemos que gostem!



Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigénese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!


Augusto dos Anjos






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