Psicanálise do conto "O pescador e o génio"
Boa tarde a todos!! Esperamos que tenham passado umas boas férias. Nesta publicação vamos apresentar-vos o conto "O pescador e o génio" e fazer a psicanálise do mesmo.
RESUMO
Havia uma vez um pescador muito velho e muito pobre que vivia com sua mulher e seus três filhos. Todos os dias, ele atirava a sua rede no mar apenas quatro vezes e sempre conseguia pescar alguns peixes para o seu sustento. Mas houve um dia em que ele atirou a rede por três vezes, sempre chamando o nome de Deus, e das três vezes só conseguiu retirar das águas um burro morto, um pote velho e algumas garrafas. Na quarta vez em que atirou a sua rede, sentiu que ela tinha ficado presa no fundo. Com dificuldade, conseguiu retirar a rede e viu que ela trazia uma garrafa de boca larga, de cobre dourado, que estava fechada com chumbo e trazia o selo do grande rei Salomão. O pescador se alegrou, pois pensou que venderia a garrafa por um bom preço. Mas sentindo que ela estava pesada, resolveu abri-la para ver o que continha. O pescador colocou-a na areia e então começou a sair de dentro dela uma fumaça, que foi se avolumando e foi tomando a forma de um gigante, que o pescador logo percebeu que era um gênio. Morto de medo, ele começou a tremer. E tinha razão para ter medo, porque o gênio saudou-o e disse:
- Alegra-te, pescador, que vais morrer e podes escolher de que maneira! O pescador apavorado, tentou acalmar o gênio:
- Mas por que queres me matar, se fui eu que te tirei do fundo do mar, fui eu que te tirei de dentro desta garrafa onde estavas preso?
O gênio então contou ao pescador a sua história… Há mil e oitocentos anos, no tempo do rei Salomão, ele, o gênio, se havia revoltado contra o rei e, como castigo, havia sido preso nesta garrafa e atirado no fundo do mar. Durante cem anos, ele havia jurado que faria rico para sempre aquele que o libertasse. Mas se passaram trezentos anos e o gênio permaneceu na garrafa. Com raiva, ele tornou a jurar:
- Agora, se eu for libertado, matarei aquele que me soltar e deixarei que ele escolha como quer morrer. O pescador implorou de todas as formas que o gênio o perdoasse, pois dizia ele:
- Desta maneira, encontrarás quem te perdoe. Mas o gênio não sentiu nenhuma emoção. Aí o pescador teve uma ideia:
- Já que eu vou morrer mesmo, quero que me respondas. Como é possível que estivesses dentro da garrafa, sendo tão grande como és? Não posso acreditar nisso, a não ser que veja com meus próprios olhos.
O gênio, desafiado, converteu-se novamente em fumaça e pouco a pouco foi entrando na garrafa. Quando viu que ele estava inteirinho lá dentro, mais do que depressa fechou a garrafa com selo. E disse ao gênio:
- Vou atirar-te de volta ao mar e vou construir uma casa aqui. Toda vez que alguém pescar, vou avisar para que não te liberte.
O gênio então, com muita aflição, implorou ao pescador que o perdoasse. Mas o pescador respondeu:
- Eu também te pedi que me perdoasse, que alguém te perdoaria. Mas, assim mesmo, quiseste me matar. O gênio jurou que não faria mal e que lhe daria meios de viver com fartura o resto dos seus dias, se o deixasse sair. O pescador se convenceu e libertou o gênio, que lhe mostrou uma lagoa rica de grandes peixes, onde o pescador pode pescar, todos os dias, durante o resto da sua vida.
ANÁLISE
A primeira personagem que iremos abordar é o pescador - Ao ler a história é possível identificar-se com o pescador, porque como ele cada um de nós é uma pessoa normal: temos uma família, cumprimos nossas obrigações e temos nossas crenças. Mas, além de tudo isso, observa-se que o pescador se identifica como um símbolo do superego:
- SUPEREGO- é a parte superior onde operam a aprendizagem social e os valores aprendidos. Daí vem a consciência moral e a censura, repressão e sublimação, e há remorso e sentimentos de culpa.
1 - Ele tem uma profissão: pescador;
2 - Tem uma família: mulher e três filhos;
3 - Cumpre sua obrigação como chefe da família: todos os dias ele pesca
Por outro lado, O Gênio é descrito como um gigante, de temível aparência (simbolizando seu poder e o medo que infunde quando age, porque sabe como impor-se);
• É irracional e não é justo, porque ele quer matar a pessoa que o ajudou;
• Ele é dominante e intransigente: quer impor ao pescador que este escolha a maneira como deve morrer.
• Se descreve como um espírito rebelde.
• A raiva que ele sente não o deixa pensar, o que o faz sucumbir à inteligência do pescador.
O Gênio pode ser identificado como um símbolo do "Id", já que seu comportamento irracional e instintivo está relacionado com a figura que o "Id" representa na personalidade humana.
- O Id é regido pelo “princípio do prazer”. Profundamente ligado a libido, está relacionado com a ação de impulsos e é considerado inato. Está localizado na zona inconsciente da mente, sem conhecer a “realidade” consciente e ética, agindo portanto apenas a partir de estímulos instintivos, o que lhe atribui a característica de amoral
CONCLUSÃO
A história contém em si a dicotomia "bem e mal" existente no ser humano. Em primeiro lugar, quando a história é contada a uma criança, esta pode simpatizar com o pescador, homem simples, trabalhador, que também existente em seu mundo real. A criança pode ver no pescador a figura de seu pai, um homem de família que cuida dele, e que no seu dia a dia enfrenta a várias dificuldades e problemas que, para a criança, são tão grandes e terríveis como o Gênio da história.
O pescador parece pequeno, humilde e sem poder, diante do grande Gênio, que infunde-o com tanto medo que o impede de fugir. Enquanto a criança se identifica com o pescador, ele também identifica o adulto como o Gênio, que constantemente quer controlá-lo, dar-lhe ordens e subjugar sua decisão. Assim como o pescador vence o Gênio com astúcia, a criança também busca seus próprios mecanismos para lidar com o mundo criado e governado pelos adultos, até mesmo, às vezes usando artifícios como as mentiras.
Obrigado e esperamos que tenham gostado e conhecido um pouco mais sobre este conto!!
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